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Vacina do sapo
A Vacina do Sapo é o nome popular para a aplicação das secreções produzidas pela perereca Kambô (Phyllomedusa bicolor) em pequenos ferimentos ou queimaduras produzidos nos braços ou nas pernas de uma pessoa, para que as substâncias presentes na pele do animal penetrem na circulação sanguínea. Esta aplicação do veneno possui efeitos laxativos, normalmente causando náusea, vômitos e diarreia, e podendo causar a morte. Não há evidência científica de ser tratamento eficaz para nenhuma condição médica.
O procedimento é tradicionalmente realizado por xamãs indígenas ou curandeiros, designados por alguns como "sapeiros" no norte do Brasil, e integra o conjunto de práticas da medicina indígena praticada na Amazônia. Tradicionalmente usado como revigorante e estimulante para caça por grupos indígenas do sudoeste amazônico, em décadas recentes também passou a ser usada nos centros urbanos.
Tradição indígena
A aplicação da vacina do sapo tem origem em várias tribos indígenas da Amazônia, incluindo kanamaris, katukinas, caxinauás, matsés, marubos, matis, yaminawa, shawadawa, ashaninka e os culinas.
Segundo as tradições desses povos indígenas, o ritual acerca de seu uso visa acabar com a má sorte na pesca e na caça e também para acabar a "panema", o estado de espírito negativo que causa doenças.
Panema é uma palavra da língua tupi e a maioria das tribos que atualmente utilizam as secreções do kambô (palavra de língua Pano) falam idiomas de outros troncos linguísticos, a saber: Kanamaris, Katukinas, Kaxinawa, Matis; Marubos; Matses; Yaminawa que falam dialetos da língua Pano; os Kampa ou Ashaninka, a língua Aruaque e os Kulinas de língua Aruá (com semelhanças ao Tupi), reforçando a ideia da livre circulação dos pajés entre etnias.
Segundo Akaiê Sramana entre os Kaxinawás, o sapo kampu era o chefe do "nixi pëi", bebida preparada com o cipó Banisteriopsis caapi (mesmo cipó que produz a Ayahuasca). Os Katukinas nunca os matam, pois dizem que poderão ser picados por cobras, e nesse caso o antídoto é a toxina retirada do sapo kambô. Para os Ashaninkas, quando o sapo wapapatsi canta perto da casa, o dono tem que apanhá-lo, queimar os pulsos e dormir. Neste grupo indígena é utilizado com um mingau forte em um ritual, que, segundo a crença se não cumprindo, o remédio não terá resultado.
As pesquisadoras Lima e Labate assinalam que paralelo a expansão do uso entre seringueiros e mais recentemente no meio urbano alguns grupos indígenas feito os nuquini e poyanawa reiniciaram a sua utilização a partir de influências de grupos indígenas vizinhos que mantiveram o uso da secreção ao longo dos anos como os katukina, yawanawá, kaxinawá, marubo e matsés nos estados do Acre e Amazonas. Essas mesmas autoras resgataram a descrição o missionário Constantin Tastevin feita a 80 anos, relatando o uso da secreção dessa "rã" conhecida, nas línguas pano, como kampo oukampu entre as que populações indígenas do Alto Juruá:
- ...o exército de batráquios é incontável. O mais digno de ser notado é o campon dos Kachinaua. [...] Quando um indígena fica doente, se torna magro, pálido e inchado; quando ele tem azar na caça é porque ele tem no corpo um mau princípio que é preciso expulsar. De madrugada, antes da aurora, estando ainda de jejum, o doente e o azarado produzem-se pequenas cicatrizes no braço ou no ventre com a ponta de um lição vermelho, depois se vacinam com o "leite" de sapo, como dizem. Logo são tomados de náuseas violentas e de diarreia; o mau princípio deixa o seu corpo por todas as saídas: o doente volta a ser grande e gordo e recobra as suas cores, o azarado encontra mais caça do que pode trazer de volta; nenhum animal escapa da sua vista aguda, o seu ouvido percebe os menores barulhos, e a sua arma não erra o alvo
Uso nos centros urbanos
O misticismo gerado pela exploração midiática destas experiências e por "natural" imitação do uso da râ Kambô nas tribos indígenas (modas culturais) a utilização da secreção de anuros, possivelmente dessa espécie (Phyllomedusa bicolor), resultou na incorporação dessa prática a alguns tratamentos desprovidos de comprovação científica nos centros urbanos. Pouquíssimas pesquisas clínicas foram realizadas para apoio à medicina tradicional por autoridades sanitárias responsáveis pela saúde da população indígena. Nesse sentido, a principal medida governamental foi a proibição do uso e publicidade comercial da vacina do sapo. Proibida no Brasil desde 2004 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). em função da identificação das substâncias contidas na secreção da rã Kambô como potencialmente venenosas, responsáveis por sintomas como diarréia, vômitos, taquicardia, podendo levar ao óbito de pessoas saudáveis por overdose ou imunologicamente susceptíveis por anafilaxia.
A consciência dos riscos e conhecimento de medidas de urgência e emergência médica deveria ser difundido mesmo entre as populações indígenas. Pesquisas devem ser feitas por especialistas para entrever o modo como os indígenas lidam com tais situações, se provavelmente ocorrem e/ou se há especificidades de suscetibilidade imunológica associada à características raciais. De qualquer sorte o entendimento do sistema etnomédico indígena não deve descartar sua integração a outras práticas tidas como xamânicas por setores de nossa sociedade capazes tanto de influenciar as culturas indígenas como de serem influenciados por elas.
O modo como o governo chinês lidou com a medicina tradicional chinesa na criação dos médicos de pés descalços ainda é um exemplo para o mundo e deve ser considerado na formação dos agentes de saúde indígenas e ou na normatização da formação de terapeutas. No caso dos "sapeiros" onde se incluem "[xamãs]]" indígenas que passaram a aplicar tais procedimentos tanto em tribos (que antes não utilizavam) como nos centros urbanos em clínicas de terapias alternativas, a lógica de sua difusão tem se caracterizado como uma disputa de mercado.
Farmacologia
Segundo Haddad Jr. e Itamar, desde a década de 1980, pesquisadores e empresas se interessam pela composição dessas secreções. A secreção inclui uma variedade de compostos chamados peptídeos, com diferentes efeitos. Peptídeos encontrados nestas secreções incluem a dermorfina e a deltorfina. Estes peptídeos se ligam aos receptores opioides sauvagina, um vasodilatador, e dermaseptina, que possui propriedades antimicrobiais in vitro. Várias outras substâncias, como a filomedusina, filocinina, cerulina e adrenoregulina também estão presentes.
Existe pesquisa médica ativa sobre os efeitos biológicos dos peptídeos encontrados nas secreções da pele das Phyllomedusa bicolor. Até novembro de 2019, apenas pesquisas pré-clínicas em ratos e camundongos haviam sido publicadas, mas ainda não havia nenhum ensaio clínico da segurança em humanos.
Espécies do gênero
Outras espécies
Possivelmente espécies do mesmo gênero apresentam substancias semelhantes em suas secreções. Sabe-se também que diversas espécies de Anuros apresentam substancias tóxicas em sua estrutura corporal, algumas destas extraídas da família Bufonidae em especial do gênero Bufo geralmente da pele seca do Bufo gargarizans ainda utilizado na medicina chinesa com o nome de Chan’su (Senso em japonês) para dor de cabeça, sinusite e hemorragias causadas por abscesso nas gengivas. Hoje em dia já se reconhece as propriedades anestésicas e vasoconstritoras (que pode estacar sangramentos) de alguns das substâncias extraídas de sapos do gênero bufo (Bufaginas) além das conhecidas Bufoteninas classificada como modificador das funções cerebrais (psicodisléptico) também encontradas em outras espécies do gênero Bufo como o nosso sapo cururu.
A espécie Phyllobates terribilis conhecida como sapo do veneno de flecha possuem uma substância chamada batrachotoxina, presente nas glândulas espalhadas por seu corpo. Apenas 136 microgramas (0,1 – 0,2 mg), o que equivale a dois ou três grãos de sal de cozinha (NaCl), são capazes de matar uma pessoa de 68 Kg por paralisia dos músculos respiratórios.
Alguns índios que habitam a região noroeste da América do Sul entre a cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, feito os Emberá de língua Chocó que vivem nas florestas que hoje pertencem a Colômbia, utilizam dardos envenenados com as secreções do Phyllobates terribilis em suas zarabatanas para caçar.