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Bolsa de ostomia
Uma bolsa de ostomia, também chamada de bolsa de estomia,bolsa de ileostomia,bolsa de colostomia ou bolsa de urostomia, é um dispositivo médico protético que fornece um meio para a coleta de resíduos de um sistema biológico desviado cirurgicamente (cólon, íleo, bexiga) e a criação de um estoma. Os sistemas de bolsas são mais comumente associados a colostomias, ileostomias e urostomias.
Os sistemas de bolsas geralmente consistem em uma bolsa coletora, uma placa base adesiva colada na pele, e o próprio estoma, que é a parte do corpo que foi desviada para a pele. O sistema pode ser um de uma peça, quando a placa base adesiva e a bolsa coletora são fixas entre si ou pode ser o sistema conhecido como "duas peças", em que a placa base adesiva é separada da bolsa coletora e as mesmas precisam ser juntas mecanicamente, pelo próprio paciente ou terceiros.
O sistema usado varia entre os indivíduos e geralmente é baseado em preferência pessoal e estilo de vida, mas também há casos de orientação médica.
Uso
As bolsas coletam os resíduos que saem de um estoma e armazenam o material (fezes ou urina) a ser eliminado posteriormente, enquanto protege a pele circundante. As bolsas permitem também que a pessoa ostomizada mantenha-se independente, permitem que os usuários possam continuar a levar um estilo de vida normal, incluindo todas as formas de esportes e recreação.
História
A bolsa de ostomia foi inventada em 1954 pela enfermeira dinamarquesa Elise Sørensen. Thora, irmã de Elise, havia sido submetida a uma cirurgia para retirada de um cancro de cólon e, como resultado da cirurgia, Thora passou a viver com uma colostomia. Pela ausência de um dispositivo que se fixasse bem na pele e armazenasse as fezes sem risco de vazamento, Thora passou a viver isolada, evitando sair de casa. Sørensen se viu então inspirada pela situação de sua irmã e outros pacientes que passavam pela mesma situação e desenvolveu uma bolsa descartável, feita de um plástico fino, selada e fixada na pele por um anel adesivo, as fezes saiam do estoma e caiam direto para a bolsa plástica. Após a invenção, Sørensen contatou diversos fabricantes, mas todos recusaram colocar a ideia em prática. Entretanto, o engenheiro e empresário fabricante de plástico, Aage Louis-Hansen, que era casado com a também enfermeira Johanne Louis-Hansen, aceitou após intervenção de sua esposa. Em 1955, Sørensen firmou um contrato de produção das bolsas com Louis-Hansen. A demanda cresceu tanto que, apenas dois anos após a invenção, dois terços da produção era para exportação. Em 1957, Aage Louis-Hansen fundou a Coloplast e a empresa assumiu a produção total das bolsa de ostomia.
Elise Sørensen registrou a patente da bolsa de ostomia 1954, sob o registro de patentes dinamarquês número 86860.
Placa base adesiva
As bases autoadesivas se fixam na pele e seguram a bolsa, a base também protege a pele do conteúdo interno da bolsa, evitando dermatites, inflamações e outras complicações. As bases, também chamadas de barreiras, são fabricadas com pectina, karaya ou material orgânico semelhante e estão disponíveis em diferentes tamanhos, para assim acomodar pacientes com diferenças anatómicas.
A abertura interna deve ter o tamanho correto para acomodar o estoma do indivíduo, protegendo a pele do contato com resíduos. Os métodos para dimensionar a abertura variam dependendo do tipo de placa; os modelos mais encontrados são os que é necessário que o usuário personalize a abertura usando uma tesoura, mas também há modelos pré-cortados e, mais recentemente, modelos moldáveis com as mãos, sem necessidade de tesoura, foram introduzidos ao mercado.
A adesão da pele para placas base modernas é otimizada considerando os cinco parâmetros abaixo:
- absorção;
- aderência;
- flexibilidade;
- resistência à erosão;
- facilidade de remoção.
Além disso, também há bases com bordas adesivas que fornecem segurança adicional para que o sistema permaneça no lugar. Também, para manter a base fixa, há sprays, pastas e pós que ajudam a colar a placa com mais firmeza, secar a pele e corrigir imperfeições da pele ao redor do estoma.
Uma bolsa ou, em caso de duas peças, base pode durar vários dias antes de precisar ser substituída; isso é altamente variável dependendo do estilo de vida, do tipo de ostomia e da anatomia do indivíduo. Entretanto, médicos e fabricantes costumam indicar que a troca seja feita em até 5 ou 7 dias.
Bolsa
O método de fixação à base adesiva varia de entre os modelos de bolsa, podendo ser permanente (modelo de uma peça) ou, nos modelos de duas peças, pressão, anéis de travamento giratórios e montagens adesivas. O arranjo de duas peças permite que as bolsas sejam trocadas sem remover a base adesiva; por exemplo, algumas pessoas preferem mudar temporariamente para uma "mini-bolsa" quando realizam determinadas atividades, como relações sexuais ou natação. "Mini-bolsas" são aquedas apenas para uso mínimo pois armazenam pouco conteúdo. Existem também "mini-bolsas" de uma peça, mas pela impossibilidade de trocar rapidamente, como é feito no modelo de duas peças, são menos usadas.
As bolsas podem ser divididas em dois tipos básicos: abertas (drenáveis) e fechadas (descartáveis).
- As bolsas abertas têm uma extremidade que pode ser fechada e aberta para drenar o conteúdo da bolsa para um vaso sanitário . A extremidade pode ser selada com um fecho do tipo velcro ou um clipe simples, comumente chamado de "presilha" ou "grampo".
- As bolsas fechadas precisam ser removidas sempre que a bolsa estiver cheia; caso seja modelo de uma peça, será necessário o descarte; em caso de bolsa de duas peças, a bolsa precisará ser removida da placa base, esvaziada e lavada, depois presa à base novamente.
O uso de bolsas abertas ou fechadas depende da frequência com que um indivíduo precisa esvaziar o conteúdo, de questões financeiras, finalidade da ostomia e indicação médica.
Acessórios
- Capas são usadas para disfarçar a bolsa quando a se expõe a mesma, como por exemplo numa atividade física, na praia ou na piscina. Há modelos artesanais e industriais, são feitas de tecido e podem ser lisas ou decoradas, inclusive com estampas para combinar com roupas;
- Cintas elásticas flexíveis são usadas para garantir que a bolsa não se soltara. Normalmente, as cintas são usadas em atividades físicas, principalmente as mais extremas.
Gases
Gases são criados durante a digestão e a bolsa irá coletá-lo e inflar. Para evitar isso, existem filtros de carvão que podem ser acoplados à bolsa, além de modelos de bolsas já fabricadas com filtro de carvão fixo, o filtro permite a saída dos gases sem a saída das fezes, além do carvão ativado promover a filtragem do odor. De qualquer modo, algum odor pode ser expelido; por isso, existem sprays que podem ser usados dentro da bolsa para reduzir esse risco.
Cuidados de rotina
Pessoas com ostomia devem usar as bolsas para coletar os resíduos. Normalmente, a bolsa deve ser esvaziada ou trocada algumas vezes ao dia, a quantidade de vezes irá depender da alimentação e do próprio organismo do usuário; em geral, quanto mais longe do ânus (isto é, quanto mais "para cima" no trato intestinal) a ostomia está localizada, mais frequente será a necessidade de esvaziar a bolsa.
Pessoas com ileostomia não utilizam o intestino grosso, os resíduos chegam ao intestino delgado e depois são eliminados pelo estoma à bolsa de ostomia. Por não utilizar o intestino grosso, costumam ter uma eliminação em maior frequência dos resíduos, além dos mesmos serem mais líquidos. De tal forma, pessoas com ileostomia, tendem a precisar repor a água e os nutrientes que perdem, seja com suplementação alimentar ou comendo em maior frequência.
Pessoas com com colostomia descendente ou sigmoidostomia podem não precisar usar a bolsa de ostomia, então será usado apenas uma touca de gaze sobre o intestino e será feita a irrigação da ostomia em horários agendados. Para irrigar, um cateter é colocado dentro da ostomia e lavado com água, o que permite que as fezes saiam do corpo para uma manga de irrigação. As pessoas ostomizadas que passam pelo processo de irrigação, normalmente fazem a irrigação uma vez por dia ou em dias alternados, mas isso varia de um indivíduo para o outro, de sua saúde, da ingestão de alimentos e sua frequência, além da orientação médica.
Legislação
A bolsa de ostomia é considerada uma prótese, seu usuário é uma pessoa com deficiência protegida por lei.
Brasil
O Brasil possuí cerca de 120 mil pessoas ostomizadas, e o Artigo 5º do Decreto 5.296 de 2004 reconhece a ostomia como uma deficiência física. Sendo assim, a pessoa ostomizada possuí não apenas os direitos garantidos às outras pessoas com deficiências, direitos pautados no Estatuto da Pessoa com Deficiência, mas também em leis e decretos específicos à população ostomizada.
Os direitos da pessoa com ostomia incluem:
- Recebimento das bolsas pelo Sistema Único de Saúde;
- Recebimento das bolsas pelo plano de saúde;
- Atendimento prioritário;
- Reserva de vagas em concursos e universidades;
- Passe livre em transporte coletivo.
O Brasil também reconhece, desde 2014, o Símbolo Nacional de Pessoa Ostomizada. Apesar do reconhecimento do símbolo, e a autorização do uso do mesmo, não há obrigatoriedade para uso em filas prioritárias, por exemplo.
Portugal
A legislação em prol das pessoas com deficiência em Portugal está baseada na lei Lei 9/89, de 2 de Maio. Os direitos da pessoa com ostomia são resguardados em lei, assim como no Brasil. Os direitos incluem:
- Isenção de 60% a 90% de impostos da compra de automóveis;
- Desobrigação de uso de cinto de segurança.
Banheiro
Apesar dos direitos garantidos às pessoas ostomizadas, inclusive o de uso de banheiros adaptados, a maioria dos banheiros são adaptados apenas para usuários de cadeiras de rodas. Não há leis nacionais, seja no Brasil ou em Portugal, que obriguem a construção de banheiros adaptados para pessoas com ostomia. Apesar de não haver leis federais, o Distrito Federal do Brasil aprovou em 2020 a Lei 6.646, que tornou os banheiros adaptados aos ostomizados obrigatórios dentro do Distrito Federal, em locais públicos e privados de uso público, como aeroportos, shoppings e hospitais. Outros estados, como o Mato Grosso do Sul com o Projeto de Lei 768/2020, têm pautado projetos de leis que possam, no futuro, tornar obrigatória a construção deste tipo de banheiro.
O banheiro para uso adequado da pessoa ostomizada, precisa estar na altura da barriga para que o despejo dos dejetos da bolsa sejam feitos sem problemas, minimizando a possibilidade de que a pessoa ostomizada suje o ambiente ou a si mesmo.
Poucos lugares contam com o banheiro adaptado aos ostomizados, dois exemplos que contam são o Aeroporto de Congonhas e o Hospital de Clínicas da Unicamp.
Impacto
Geralmente levam algum tempo para que a pessoa se acostume com o uso da bolsa de ostomia, incluindo tempo para aprender como manusear, esvaziar e fazer a troca, bem como se ajustar psicologicamente. O tempo necessário para o ajuste pode durar mais de um ano.
Por causa do desconhecimento, preconceito e estigma associados ao uso de bolsa de ostomia, pessoas ostomizadas podem experimentar isolamento social, baixa autoestima, mudança na função sexual, como mudança de peso e até desenvolver doenças psicológicas, como depressão. Por isso, muitas vezes é orientado que a pessoa recém-ostomizada faça acompanhamento psicoterapêutico.
Pessoas notáveis ostomizadas
- Thora Sørensen, irmã de Elise Sørensen, ostomizada após ter sido submetida a uma cirurgia por causa de um câncer colorretal, inspirou a sua irmã a inventar a bolsa de ostomia;
- Dwight D. Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, submetido a uma ostomia após ser diagnosticado com Doença de Crohn, em 1965.
- Tyler James William, ator de Todo Mundo Odeia o Chris, foi ostomizado após uma crise de Doença de Crohn;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, usou colostomia temporariamente após uma cirurgia em 2018;
- Luciano Szafir, ator, colostomizado após uma perfuração do intestino grosso por uso de anticoagulantes em decorrência do tratamento de COVID-19;