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História do transtorno bipolar
As variações cíclicas no humor e nos níveis de energia foram registadas há pelo menos vários milhares de anos. As palavras "melancolia" (uma palavra antiga para depressão) e "mania" têm as suas origens etimológicas no grego antigo. A palavra melancolia é derivada de melas/μελας, que significa "preto", e chole/χολη, que significa "bile" ou "fel", indicativo das origens do termo nas teorias humorais pré-hipocráticas. Um homem conhecido como Aretaeus da Capadócia tem os primeiros registos de análise dos sintomas de depressão e mania no século I da Grécia. Há documentação que explica como os sais de banho eram usados para acalmar as pessoas com sintomas maníacos e também ajudar as pessoas que sofrem de depressão. Ainda hoje, o lítio é usado como tratamento para o transtorno bipolar, o que é significativo porque o lítio poderia ter sido um ingrediente do sal de banho grego. Séculos se passaram e muito pouco foi estudado ou descoberto. Foi apenas em meados do século XIX que um psiquiatra francês chamado Jean-Pierre Falret escreveu um artigo descrevendo a "insanidade circular" e acredita-se que este seja o primeiro diagnóstico registado de transtorno bipolar. Anos depois, no início dos anos 1900, Emil Kraepelin, um psiquiatra alemão, analisou a influência da biologia nos transtornos mentais, incluindo o transtorno bipolar. Os seus estudos ainda hoje são usados como base para a classificação de transtornos mentais.
As origens linguísticas da mania em relação ao transtorno bipolar
As origens linguísticas da mania, no entanto, não são tão claras. Várias etimologias são propostas pelo médico romano Caelius Aurelianus, incluindo a palavra grega "ania", que significa produzir grande angústia mental, e "manos", que significa relaxado ou solto, que contextualmente se aproximaria de um relaxamento excessivo da mente ou da alma. Há pelo menos cinco outros candidatos, e parte da confusão em torno da etimologia exata da palavra mania é o seu uso variado na poesia e mitologias pré-hipocráticas.
Relação entre a mania e a melancolia
A ideia de uma relação entre a mania e a melancolia remonta pelo menos ao século II Sorano de Éfeso (98–177) descreveu a mania e a melancolia como doenças distintas com etiologias distintas; no entanto, ele reconheceu que "muitos outros consideram a melancolia uma forma da doença maníaca".
As primeiras descrições escritas de uma relação entre a mania e a melancolia são atribuídas a Areteu. Areteu foi um filósofo e médico eclético que viveu na Alexandria entre 30 e 150. Areteu é reconhecido como o autor da maioria dos textos sobreviventes que se referem a um conceito unificado de doença maníaco-depressiva, vendo tanto a melancolia quanto a mania como tendo uma origem comum na "bile negra".
Origem do transtorno bipolar como sendo uma doença mental
Uma compreensão clara do transtorno bipolar como uma doença mental foi reconhecida pelos primeiros autores chineses. O enciclopedista Gao Lian (c. 1583) descreve a doença nos seus Oito Tratados sobre a Nutrição da Vida (Ts'un-sheng pa-chien).
A base da conceituação atual da doença maníaco-depressiva pode ser rastreada até a década de 1850; em 31 de janeiro de 1854, Jules Baillarger descreveu à Academia Imperial Francesa de Medicina uma doença mental bifásica que causava oscilações recorrentes entre mania e depressão, a que ele chamou de folie à double forme ('insanidade de forma dupla'). Duas semanas depois, em 14 de fevereiro de 1854, Jean-Pierre Falret apresentou uma descrição à Academia sobre o que era essencialmente o mesmo transtorno, designado-o de folie circulaire ('insanidade circular'). Os dois disputaram amargamente sobre quem foi o primeiro a conceituar a condição.
Estes conceitos foram desenvolvidos pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926), que, usando o conceito de Kahlbaum de ciclotimia, categorizou e estudou o curso natural de pacientes bipolares não tratados. Ele criou o termo psicose maníaco-depressiva, depois de ter constatado que os períodos de doença aguda, fosse na mania ou na depressão, foram geralmente seguidos de intervalos relativamente livres de sintomas em que o doente foi capaz de funcionar normalmente.
Distinção entre depressão-maníaca envolvendo estados psicóticos daquela que não envolve
A primeira distinção diagnóstica a ser feita entre a depressão-maníaca envolvendo estados psicóticos, daquele que não, veio de Carl Jung em 1903. A distinção de Jung é hoje referida no DSM-IV como aquela entre 'bipolar I' (mania envolvendo possíveis episódios psicóticos) e 'bipolar II' (hipomania sem psicose). No seu artigo, Jung introduziu a versão não psicótica da doença com a afirmação introdutória: "Gostaria de publicar uma série de casos cuja peculiaridade consiste num comportamento hipomaníaco crónico" onde "não é uma questão de mania real, mas sim de um estado hipomaníaco que não pode ser considerado psicótico”. Jung ilustrou a variação não psicótica com 5 casos, cada um envolvendo comportamento hipomaníaco, crises ocasionais de depressão e estados de humor mistos, que envolveram transtornos pessoais e interpessoais para cada paciente.
Opções iniciais de tratamento
Após a Segunda Guerra Mundial, John Cade, um psiquiatra australiano, estava a investigar os efeitos de vários compostos em pacientes veteranos com psicose maníaco-depressiva. Em 1949, Cade descobriu que o carbonato de lítio poderia ser usado como um tratamento bem-sucedido da psicose maníaco-depressiva. Como havia o medo de que os substitutos do sal de cozinha pudessem levar à toxicidade ou à morte, as descobertas do Cade não levaram imediatamente a tratamentos. Na década de 1950, os hospitais americanos começaram a fazer experiências com lítio nos seus pacientes. Em meados dos anos 60, começaram a aparecer na literatura médica relatórios sobre a eficácia do lítio. A Food and Drug Administration dos EUA não aprovou o uso do lítio até 1970.
Progressão da "reação" maníaco-depressiva para "doença" maníaco-depressiva
O termo "reação maníaco-depressiva" apareceu no primeiro Manual de Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria em 1952, influenciado pelo legado de Adolf Meyer, que introduziu o paradigma da doença como uma reação de fatores biogenéticos a influências psicológicas e sociais. A subclassificação do transtorno bipolar foi proposta pela primeira vez pelo psiquiatra alemão Karl Leonhard em 1957; ele também foi o primeiro a introduzir os termos bipolar (para aqueles com mania) e unipolar (apenas para aqueles com episódios depressivos).
Em 1968, ambos os sistemas de classificação recentemente revisados CID-8 e DSM-II denominaram a condição de "doença maníaco-depressiva" quando o pensamento biológico veio à tona.
Classificação atual do transtorno bipolar
A nosologia atual, transtorno bipolar, tornou-se popular apenas recentemente, e alguns indivíduos preferem o termo mais antigo porque fornece uma descrição melhor de uma doença multidimensional em constante mudança.
O trabalho empírico e teórico sobre o transtorno bipolar tem, ao longo da história, "oscilado" entre as formas de compreensão psicológicas e biológicas. Apesar do trabalho de Kraepelin (1921) enfatizar o contexto psicossocial, as concepções do transtorno bipolar como uma doença de base genética dominaram o século XX. Desde a década de 1990, entretanto, tem havido um ressurgimento do interesse e da pesquisa sobre o papel dos processos psicossociais.